As mudanças
na forma de consumir desembarcaram no Brasil, com iniciativas para facilitar a
vida de quem precisa consertar um aparelho ou projetos de upcycling, que
reutilizam sobras, resíduos e produtos inutilizados para criar novas peças.
Uma
das que tentam mudar o modo de fazer moda é Gabriela Mazepa, fundadora do Re-Roupa, que mistura loja com oficinas e
palestras de upcycling, e tem um lado social, ao empregar costureiras de
comunidades de baixa renda.
A
criação no upcycling, conta a estilista, é um desafio a mais. Isso porque os
tecidos usados são retalhos que fábricas e confecções jogariam no lixo:
—
Não posso definir que vou fazer uma coleção toda amarela, por exemplo, porque
não escolho os tecidos que vou pegar. É um processo criativo muito intenso,
porque você não sabe o que vai aparecer.
E
a ideia de não comprar à toa vai além das roupas, segundo Gabriela, que diz
procurar quem conserte seus aparelhos quando eles quebram:
—
Meu pai é engenheiro e consertava as coisas na nossa casa. Para mim, isso é
natural, sempre que posso, tento estender a vida das coisas. Mas não sou
radical, se for preciso, compro.
O
upcycling virou curso do IED, na Urca. E, em breve, voltará a ser tema de
aulas, mas com foco na aplicação da técnica ao design, transformando um objeto
em outro, conta Fabio Palma, diretor do IED do Rio.
—
A economia hoje é linear: produzida num canto, vendida em outro e consumida na
ponta. No upcycling, você fecha um ciclo, usa matéria-prima que era descarte e
volta a ser matéria-prima. — diz Palma. — A economia circular é mais
sustentável e respeitosa ao meio ambiente.
Fruto
do Re-Roupa, o Roupa Livre mistura eventos de troca de roupas, produção de
conteúdo, um site que mapeia iniciativas de consumo consciente e um aplicativo
para celular em fase de gestação, mas que promete promover essa forma de olhar
para as coisas. Para Mari Pelli, fundadora do Roupa Livre, a troca de peças já
era feita dentro das famílias, mas ganhou nova cara:
—
O que anos atrás não parecia interessante, hoje chega a ser uma alternativa viável
para substituir a necessidade de compra. Não compro nada novo há três anos. Só
renovo meu guarda-roupa com troca, reforma, transformação, consertos e roupas
de segunda mão.
Uber
dos consertos
E para ajudar quem acredita que o que quebrou deve ser consertado e não trocado, surgiu o Consertaê — um “Uber” dos reparos. O site cadastra técnicos, checando antes habilidades, referências e antecedentes criminais. Do outro lado, o cliente agenda o atendimento, preenchendo um formulário no site, no qual indica o problema e o melhor dia e horário para o serviço — que pode ser pago com cartão de crédito.
—
Com a crise, o número de pessoas que preferem consertar aumentou bastante.
Porém, acho que, mesmo após o Brasil se recuperar, o comportamento continuará —
diz Marcílio Quintino, fundador do Consertaê.
Uma
das usuárias da plataforma é a empresária Jessica Paula, que procurou um
técnico para reparar seu celular:
—
Poder consertar é uma opção melhor que comprar outro.
Outra
iniciativa que recicla dando novo valor ao produto é a Retalhar. Ela tem
parceria com 20 empresas e transforma resíduos têxteis, como uniformes antigos,
em brindes, cobertores para doação ou mantas acústicas, usadas em construção. A
prática é vantajosa para o meio ambiente e para empresas, que garantem o
descarte correto dos uniformes.
Fonte: Revista Pegn